domingo, 3 de abril de 2011

O Ozendo e as Invasões Francesas (continução)

Contos da nossa terra

O destacamento de Merle onde se integrava a Companhia do Capitão Jaques perfilava-se a leste encostada às tropas de cavalaria, no morro sobranceiro ao Gravato de frente para a margem do Côa, quando de súbito sem que tal, fosse de todo esperado, começaram a receber canhoada pelo flanco esquerdo do batalhão de infantaria comandado por Beckwith com  tropas inglesas e portuguesas.

Entretanto, na retaguarda no sítio do Teixo, a quatro quilómetros para o lado da fronteira, estava estacionada a parafernália: - os parcos víveres, os saques das aldeias vilas e cidades, as dezenas de burros, mulas e carros de bois, ovelhas, cabras, coelhos e cães. As raridades em ouro, prata as pedras douradas de ançã, incluindo as da Sé da Guarda – todo um espólio riquíssimo “varrido” desde a retirada de Lisboa.

Quando ribombaram os tambores para a fuga, foi um vês se te avias para enterrar os artefactos mais pesados e difíceis de transportar num local de fácil identificação. Disso, o Capitão Jaques, tinha encarregue o ajudante Michel Platini homem fiel e desembaraçado. Este, à cautela já de véspera tinha mandado uma quadra de soldados abrir uma vala recôndita lá mais abaixo numa carvalheira bem cerrada entre quatro negrais centenários.

Na fuga apressada só houve tempo para recolher as peças mais preciosas. Na confusão entre vacas, mulas burros cabras, houve tempo para esconder no meio de palhiço apanhado à pressa - as peças de ouro e prata mais pesadas cruzes, cálices,candelabros, salvas, e até pesadas correntes – em cima de carros de bois.

Ala que se faz tarde: foi o salve-se quem puder como diria a frase que ficou famosa proferida nessa  altura pelo ti Carrapatinho.

Foi um derrubar de paredes aqui, um saltar cômaros além, atravessar ribeiros e declives, numa frente desordenada de quilómetros de largura. O Jaques que se juntara a Michel ainda no início da debandada, seguiram por entre prados e lameiros em direção à Nabijola, contornaram o Pião escudados por altos muros de pedra, até serem barrados pelas milícias que descendo a Devesinha seguiram no seu encalço. Estas com Domingos Tate à frente dos seus homens, porque surgissem de surpresa,  do emaranhado de casas que tão bem conheciam, foram dar de caras com o capitão Jaques. Enquanto se travavam de razões entre, o atacas tu ou ataco eu, mais atrás na coluna o Michel encarregava-se de levar a cabo aquele que era o plano B, esconder fosse como fosse, o tesouro amealhado, ou melhor espoliado. Uma secção intermédia da coluna encarregou-se de proceder a uma manobra de diversão, simulando que atacavam pelos flancos as ruas desertas da aldeia. Do outro lado da coluna, mais atrás, numa confusão mais ou menos aparentemente organizada, quanto discreta, a soldadesca esgueirava-se num vai e vem contínuo levando tudo o que pudessem. Enquanto isso os homens habituados a abrir as trincheiras cavavam e enterravam num corrupio estropiado as preciosas peças que lhes faziam chegar. O Michel Platini que entretanto se avizinhara, tomava notas da localização: fim de quelha, a Poente, esquina de casa, a Sul, parede rural, a Norte e portal de saída, a Nascente.

O Capitão Jaques deixou-se voluntáriamente ficar por estas paragens  num turbilhão de sentimentos dividido entre o refém e o desertor, em troca de uma paz desejada por ambos os lados  e da  progressão das suas tropas em direção a Alfaiates. Foi mantido  em cativeiro numa espécie de caverna de uma lúgubre habitação no centro do Ozendo. Foi libertado poucos dias depois pela população, após o que, de espontânea e  livre vontade ter dado a conhecer aos vizinhos da povoação parte do tesouro que sabia escondido. Veio a casar com uma aldeã Maria Alves Tate, também ela descendente de um oficial Inglês de baixa patente. Deixaram descendência, da qual, alguma ainda hoje se mantém na aldeia.
A parte do tesouro que continua escondido um pouco por todos os arrabaldes da povoação, ficou para alimentar a lenda.
                                                                                                                                                                              Por: Cadc
                                                                                 Fim

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