segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A nossa terra em 1889

“É uma povoação, de 123 vizinhos em 1889, pertencente a Quadrazais, de que fica a N.E., em um vale mimoso, entre duas ribeiras, cujas águas convenientemente aproveitadas para a irrigação muito concorrem para as boas condições económicas dos seus vizinhos, relativamente melhores que as da sede da freguesia.

Possui efectivamente bons prédios rústicos e tem melhores prédios urbanos que Quadrazais e sobretudo em melhores condições higiénicas. Tem uma fonte abundante, junto ao caminho do Souto, fora da povoação. Cria muitos gados de todas as espécies conhecidas no concelho. Havia ali 200 cabras e ovelhas e muito gado bovino, empregado nas culturas dos campos.

O seu clima é mais doce que o de Quadrazais, Souto e Vale de Espinho, tendo já muitas árvores frutíferas, especialmente castanheiros, produzindo ali bem a vinha.

Colhe muita batata, centeio, milho, feijão e outros géneros, bem como castanha e bolota.

Tem uma igreja superior à de muitas freguesias, decentemente ornada.

Dista um quilómetro da Torre, povoação que pertence também à freguesia de Quadrazais. Estas duas, reunidas, dariam uma freguesia muito regular, de mais de 250 fogos. Era conveniente tal reunião, por ambas estarem distantes das respectivas sedes e haver muitos incómodos por causa dos baptisados, casamentos e enterros, tanto para o povo como para os párocos, embora em cada uma delas tenha sempre havido capelão.

O Ozendo tem uma escola, criada há poucos anos, sendo o professor mesmo natural dali.

Era natural do Ozendo o falecido padre J. Nabais Damião, que viveu muitos anos em Lisboa, onde foi capelão dos Hospitais de S. José e D. Estefânia. Faleceu em 1900.

Foi ali capelão muitos anos o Pe. Bernardo Garcia, que faleceu em 1903 e que era natural do Souto.

Ao Ozendo ainda hoje se chama Casas do Ozendo, o que indica haver ali em época não muito remota apenas algumas casas. Há lá muitas tecedeiras, como pode observar quem ali passe.

Á região do Ozendo e Torre dá-se ainda a designação de Moitas.”

(in: CORREIA, Joaquim Manuel (1946), Terras de Riba-Côa. Memórias Sobre o Concelho do Sabugal, Lisboa, Câmara Municipal de Sabugal, p. 214-215.)

3 comentários:

Maria Pires disse...

Em 1980 aquando da pesquisa da origem (etimologia) do nome de Ozendo, na Torre do Tombo, ainda então no Palácio de S. Bento, cheguei a esta hipótese curiosa:
A palavra terá tido uma evolução do nome ADOLSINDA que de origem germânica significa – terra de nobre senhora germânica. O nome evoluiu para Adosinda e Ouzendo ou Ozendo talvez em simultâneo tendo estas palavras a mesma origem.
Outra hipótese menos fundamentada que colocamos: «quem se posicione virado para o horizonte tem uma sensação de abertura para o mundo. Ora em latim a apalavra os oris significa boca, abertura com a habituação poderá ter dado OZENDO.
Na enciclopédia luso brasileira diz-se: « esta aldeia é mais antiga ao contrário do que muita gente julga»
Há indícios de que esta região limite do Ozendo já era povoada na era proto-histórica ( pelo menos há três mil anos). Existem vários vestígios que as pessoas da aldeia dão como adquiridos, mas a verdade é que muitos deles que passam despercebidos poderão ser muito antigo ( por exemplo uma estrada romana que ligava o Sabugal ao Soito) . Trataremos desta questão noutra oportunidade.
Havia então [1758] na freg. sete capelas: quatro junto ao povo ou neste (Santo Cristo, Santo António, S. Sebastião e S. Mamede) sendo as outras dedicadas a S. Genésio, ao Espirito Santo e a S. Sebastião - esta no lug. de Casas de Ousendo (sic). A outra pov. da freg. era a Quinta de Águas de Bacelo. Ousendo é nome de bom uso até ao séc XII ou XIII, quando muito, e de origem germânica, - o que é demonstrativo da antiguidade do povoamento local"
E depois de curiosas dissertações que me abstenho de reproduzir (mas que nada têm a ver com Casas de Ousendo/Ozendo), a entrada referente a Quadrazais acaba deste modo:
"Tendo parte do termo dentro dos limites do conc. de Sortelha, Quadrazais participou dos aforamentos medievos desta Vila e da de Sabugal, e do domínio dos vários senhores que aí houve, especialmente da dita vila de Sortelha. Fazem parte desta freg. os lug. de : Ozendo (sic) e Quadrazais".
ALGUMAS CURIOSIDADES
Nas memórias paroquiais de 1755, dizia o cura da época a propósito de Quadrazais e seu termo : "as serras de Furdes sao tão eminentes e dilatadas que nas suas concavidades se conservam certas povoações incógnitas, que há pouco tempo foram descobertas, cuja gente se diz não tinha conhecimento da religião católica, e o primeiro que a catequizou se diz com certeza que fora um bispo de Coria chamado Fulano Poras por serem do seu bispado e ainda hoje se diz das ditas pov. que são El Mundo Nuevo en Castilla"
E ainda : "Nesta ermida [do Espirito Santo], que era de grande devoção, se encontravam e se faziam votos contra as guerras e "pela gafanhota"(sic), diz o mesmo pároco - as duas pragas que os habitantes mais temiam ....
Quando hoje com as novas tecnologias Google e GEBB, se escreve Casas de Ousendo apareceram mais sítios e com mais informação sobre a zona, do que se consegue com Sabugal e Quadrazais
É uma zona peculiar, dada a sua proximidade com Espanha, por causa do contrabando e não só. Invasões Francesas e outras escaramuças da raia. Também este assunto trataremos noutra oportunidade.
Durante vários anos foram Padres Espanhóis a estarem à frente da paróquia de Quadrazais e faziam os termos em Castelhano, já se vê!!! isto no século XVIII.

C.A.D.C

Maria Pires disse...

Depois de muito procurar encontrámos outra localidede com o nome de OZENDO ou AUZENDE, o que aliás só vem confirmar a nossa pesquisa sobre este nome:

“PROCº Nº 1304/78 – LOUROPEL – FÁBRICA DE BOTÕES, LDA. – DECLARAÇÃO DE INTERESSE MUNICIPAL"
Do Senhor Presidente da Câmara Municipal( Vila Nova de Famalicão) cujo teor se transcreve:
“Através do requerimento nº. 17350/2005, a requerente instruiu um pedido de declaração de interesse municipal para a legalização da ampliação da unidade industrial, localizada no lugar de Ozendo ou Auzende, freguesia do Louro, com vista à instrução de processo na Comissão Regional da Reserva Agrícola de Entre Douro e Minho. Informação técnica.

Maria Pires disse...

Aqui fica uma da mais aprofundadas, apaixonadas e interessantes investigações daquele que é um pequeno paraíso, a nossa aldeia. Gostaria que fosse inserido no site para futuros comentários e contribuições.